Ana e Josie nos Joffre Lakes, em Vancouver
Vida Nômade

Mochilão: 7 habilidades fora da caixa que adquirimos em um ano de viagem pelo mundo

Com essa mania de rotular e catalogar coisas, nem sempre estamos preparados para processar aquilo que foge do comum. No processo de fechar um ciclo do ’30 on the road’, e também de partilharmos aquilo que vivemos, muitas vezes não temos palavras para descrever o impacto pessoal que tiveram nossas experiências. Nós simplesmente não encontramos ‘caixinhas’ para colocarmos as nossas conquistas.

1. Não há, por exemplo, uma carteira de habilitação que diga: ‘Habilitado para dirigir em qualquer sentido do trânsito, e até para trocar a marcha do carro com a mão esquerda.’

2. Ou então, um troféu no qual se leia: ‘Primeiro lugar para estreantes em:
– hiking (em seis países, de montanhas nevadas a vulcões)
– canoagem (no Canadá, com aulas particulares de um cientista que recebeu medalha da rainha) e;
– tênis (na Austrália, com coalinhas dormindo na árvore ao lado)’.

3. Também não há um atestado que diga: ‘Atesto para os devidos fins, que estas garotas se adaptam muito bem às mudanças de altitude (testes satisfatórios até 3,4 mil metros), mas apresentam disfunções em mudanças de fuso horário maiores de seis horas. Repouso e ingestão de água são recomendados’.

4. Não encontramos uma forma de colocar no currículo as seguintes habilidades:
– ‘Capacidade para limpar neve da calçada em acumulados de até um metro;
– Recursos para compreender o transporte público de uma cidade nos primeiros dez minutos;
– Facilidade para indicar direções em Nova York, Toronto, São Francisco, Santiago, Cusco, Melbourne, Adelaide, Wellington, Christchurch e Queenstown;
– Versatilidade para adaptar feijões mexicanos e lentilhas sul-australianas para o tempero gaúcho;
– Habilidade para dormir como um anjo em quartos compartilhados de hostel, sofás alheios e poltronas de ônibus;
– Agilidade para calcular a hora em diferentes países do mundo conforme o fuso horário’.

5. Ainda, tem sido complexo encontrar uma rede social na qual possamos ajustar nas configurações:
– ‘Alguns amigos só falam Português;
– Alguns só falam Inglês;
– Outros só falam Espanhol;
– Alguns amigos falam Português e Inglês;
– Alguns falam Alemão e Inglês;
– Outros falam Vietnamita e Inglês;
– Alguns amigos falam Inglês, Português e Japonês;
– Alguns falam Inglês, Espanhol e Alemão;
– Outros falam Inglês e Mandarim;
– Tem um amigo que fala sete idiomas, e esse nem vamos tentar ajustar nas configurações’.

6. Também não há nenhum certificado que diga: ‘Certifico que estas jovens conversaram em Inglês com pessoas de mais de vinte nacionalidades, compreendendo sotaques e expressões de forma satisfatória.’ Ou outro no qual se lê: ‘Certifico que estas garotas serviram de tradutoras em conversas envolvendo europeus e sul-americanos que só falavam Inglês ou Espanhol’. Ou então: ‘Certificamos que estas viajantes sabem aplicar com adequação expressões como ‘You are a gem’; ‘Back to ya’; ‘Would you fancy some water?’; e ‘We’ll shout you a coffee’.

7. Enfim, não há uma medalha na qual possamos ostentar o seguinte título:

‘Primeiro lugar para quem viveu uma experiência PESSOAL formidável.’

Afinal, como bem diria nossa medalha, nossa experiência foi pessoal, baseada nos nossos sonhos, nos nossos valores, nas nossas ambições, naquilo que acreditamos e queremos conquistar. Talvez não tenhamos documentos, troféus e certificados, mas temos, ao menos, a possibilidade de seguir usando as palavras, mostrando fotos e vídeos, sorrindo com entusiasmo ao lembrar de nossas memórias, mostrando o brilho no olho, e compartilhando a nossa visão. Por ora, isso parece que nos basta.